AOS HOMENS IMORTAIS (Rachel dos Santos Dias)

"Aos Homens Imortais"

Levantai, homens de pedra,

Plantados nos arejados jardins

Ou pendurados para sempre

Nas paredes frias do grego templo!

Nossos lugares sagrados.

Buscai a aragem que entra pelos janelões

E peçam que purifique o seu interior.

Oh! Homens planos,  imortais,

Não deixem que a peçonha do homem vivo

Respingue em seus portais.

Oh! Homens sombrios e imóveis,

Perambulem pelos cantos do templo

A espantar teias e miasmas.

Não deixem que em seus corredores pululem

Palavras hostis e sem nexo...

Guardiões de textos imortais,

Acordai, sai de suas molduras serenas,

Severas, sempiternas

E de vestimentas escuras e bem talhadas

Sentem-se nas laterais, seus lugares imortais,

Para soluçarem indignações aos vivos!

Façam jus ao seu templo

Sussurrem doçuras, assoprem ternuras...

Oh! Homens, ancestrais das palavras do eterno,

Venham, venham,

Sequem meus olhos espantados

Decepcionados e tristes!

Não fiquem nos seus quadros somente para serem vistos;

Gritem por nós!

Que seus lamentos ecoem em seu interior!

Lamentem os homens vendilhões da alma,

Que fazem do seu templo um mercado.

Andai,  fantasmas das penumbras,

Pelo salão escuro

Em busca de palavras próprias e gritem por nós!

Acordem homens imortais estáticos e consagrados!

... E eu orarei por vós.

RACHEL DOS SANTOS DIAS   (30/12/2005) 

Parabens por sua extraordinária sensibilidade. O tema permanece atualissimo!